
Posso até imaginar o tipo de ópio que levaram os franceses à passar por cima do que estava à frente dos seus narizes já que o cheiro de maio de ´68, em 69, não estava tão longe. Mas o momento em que Lino Ventura, no papel do engenheiro Philipe Gerbier, tenta desastradamente matar o membro que o traiu e o enviou para a cadeia é tão sincero quanto a sinceridade pode ser e no fim percebemos que até mesmo os líderes da resistência eram nada mais do que pessoas comuns jogadas de encontro ao seu limite. E se acreditarmos em Melville, a revolução é um trabalho solitário, onde até mesmo a distância entre irmãos são falsamente aumentadas em mais um momento antológico quando o líder da resistência deve deixar a França.
Em um momento ou outro, Melville nos joga direto na cabeça de uma personagem com uma narração em off e não depende da importância da personagem e sim da situação. Quando Gerbier é preso acompanhamos toda a linha de raciocínio do diretor do presídio, um francês que trabalha para os alemães, sobre como deve tratá-lo, tudo baseado no seu mesquinho interesse. O filme é todo montado em sequências, pequenos set-pieces, sem uma grande trama a não ser a luta sem saída da resistência. Não vou mentir, a vontade é de contar o filme todo, cena a cena, o tanto que algumas destas sequências me perseguem. Infelizmente, não achei alguém bebâdo que também tenha assistido esse filme para me responder se quando o francês é baleado e morto na primeira fuga de Gerbier é apenas um acidente ou um jogo maquiavélico de Gerbier para que a resistência não perca uma das suas cabeças.
Ver este filme 30 anos depois e louvá-lo como uma obra-prima em pleno Brasil é bem fácil, mas talvez até mesmo em 69, ainda sentindo falta de alguns dentes, perdidos ali em maio de 1968, em algum protesto contra a demissão de Henri Langlois, daria para chamar "L´Armeé des Ombres" de um bom filme.