terça-feira, 8 de janeiro de 2008

Tragam-Me a Cabeça de Alfredo Garcia (Bring Me The Head of Alfredo Garcia - 1974 - Estados Unidos/México)


Logo quando Warren Oates aparece na tela algo me incomoda, há algo errado com esse cara, quase como se não devesse estar ali. Depois de algum tempo de filme, aparece algum sentido nas minhas idéias. Warren Oates, no papel do pianista Ben, é humano demais para esses simulacros de celulóide que vim vendo até então e todos insistem em chamar de estrelas de cinema. Seu rosto é idiossincrático, seus trejeitos me fazem lembrar da infinidade de personalidades anônimas dos pés sujos por aí. Tão humano que dói e que incomoda ver.

Se a qualidade da arte depende do quanto o artista se compromete e se entrega à sua obra, as dúvidas acabam agora: "Tragam-Me a Cabeça de Alfredo Garcia" é a obra-prima do diretor Sam Peckinpah. Não que seja uma briga fácil contra seus outros filmes, mas assistir "Tragam-Me a Cabeça (...)" é como eu imagino que seja dar uma volta pelas entranhas do velho Sam. Entre bebidas, estupros e um pouco menos de bala do que se poderia esperar, não é só a presença de Oates que causa o estranhamento. O ritmo é todo dele, sem emprestar nada das fórmulas do entretenimento puro, e, dizem alguns mas não eu, deve um pouco ao Faroeste Italiano que, vale a pena dizer, Peckinpah não era um dos maiores admiradores (Se duvidam que alguém disse isso, assistam ao documentário do IFC "The Spaghetti West").

O filme todo é um desenrolar doloroso de verdade, amor, sacrífício, honra e verdade. Verdade duas vezes, por quê o que se tem impresso em cada fotograma não é a verdade simplista, aquela dos fatos, mas a verdade intangível de toda uma vida, posta aqui em uma forma que é tão violenta quanto bela.